Tuesday, May 30, 2006

O Frio Da Pocilga

O Frio Da Pocilga
(Elinando F.)

Desvia-te desse olhar, ele te rouba a paixão, ele te consome e te deita no chão e por fim te estende a mão... Apenas a mão. E de costas me vês, uma página por dia, um flagrante jamais autoado, uma pista sem provas e um tempero só com cor, mas sem gosto.
Vem então esse fluido, esse barulho aos ouvidos, suave, melódico, mordido, irado e esquecido. De longe te vejo, tão bela, de perto percebo, o fogo da vela e o brilho: Oh! encanto de teus olhos, parada, a contemplar o ilusório, que me fez falar demais e não ser tão direto. Será que perdi a vez?
É, eles se vão e supomos uma sensação, um vapor, um sentimento de invasão: Triste é saber que estamos ainda eretos no chão, diante a orquestra, onde a razão foge do contexto e nem a emoção se desdobra em autenticidade.
Que dia é esse, tão no lugar? É algo que falta apagar, um corretivo no grau da visão, um neurônio à menos na transmissão, é, uma vida à menos no coração.
Se pudesse fazer algo para os outros, uma arquitetura de um texto premeditado, um improviso bem feito sem estragos. Uma cruz que brilha nos botões de tua costa faz tua moda, como não posso sair, fico aqui na escória, com uma armação envergada no bolso e um olho chinês em meu olho e alguns feixes de comprimento essencialmente monocordados.
Vou destruir mais outra vez essa película, eterna aos olhos de uma tarde, intocada as carícias do vento, por ela caminha os insetos e venho eu com a chuva, a chuva repentinamente atormentadora, barulhenta mas não calaminosa: Deprimente e vê surgirem mais abrigos alternativos para essa gente tão sem divisões a sua volta e apenas um chuveiro para se aquecer do frio da pocilga...

Uma Calma Explanação

Uma Calma Explanação
(Elinando F.)

Em que estado estou?
Em que Estado tenho estado?
Nesse estado deveria partir
Assim poderia estar em outro Estado

Estamos aqui no meio da praça
O mundo nos vê, o mundo passa
Nesse espetáculo reina o palhaço
Que nas ruas tem a magia do mágico

E esse esforço que tenho no braço
Nem chega aos pés do que tenho na perna
É a genética que engorda tua barriga

Nesses tempos em que o vazio invade
Cabe a nós engolirmos com homeostase
A fúria inocente de um argumento aflito

Monday, May 29, 2006

Guerreiro Do Lado

Guerreiro Do Lado
(Elinando F.)

Deixo a bolha no ar vagando cega
Contagiando de vez o sorriso da criança
Que chora na explosão espumosa das vistas
Em uma lágrima incômoda de tão ígnea

Eu não mais venero o orgasmo imundo
Desse lodo impregnado de brilho formoso
Arranco pausadamente os espinhos dos cantos
Porém quase sempre eu me machuco e desando

Sei bem que esse erro é uma veste da saudade
Que se espalha no hálito inerte do sopro
Desse vento oriundo da silenciosa agonia

Denomino assim nomes aos gestos inefáveis
Pois o que me resta é negociar essa descoberta praxe
Aos desventurados que habitam as esferas múltiplas.

Distorção

Distorção
(Elinando F.)

Tem uma estrela acesa lá fora
É a lua que deixou de subir ali
Dá até para ver o brilho pálido
Rente ao balançar das cortinas ao vento...

Vem a noite no meu último trago
Em uma fumaça agressiva aos pulmões
Porém uma gota cáustica mas saudável
Desce sem obstáculos no precipício arterial

Surge então essa chama de sangue vívido
Como sinal que ainda existe uma luz
No retorno inevitável de um fim sombrio

É o sorriso que não sai desse quarto:
"Quando a inércia ganha o combinado,
O céu deixa suas nuvens pairando no chão".

Sepulcro

Sepulcro
(Elinando F.)

Então vem de um sonho, uma ilusão corpórea, táctea nos dedos que não sentem...Uma dor que lhe promete um dia ensinar e depois partir para sempre...E a solidão do nascer traz de volta a essência no abandono nunca existente, pois estivemos sempre calados, contando os meses dispersos na vida escassa dos quereres. E agora livre de enganos, sabendo que o sofrer é uma realidade intrínseca e dormente, meio que de você ouço: "Sim! Eu era uma vez um dia e agora eu sou novamente..."

Wednesday, May 24, 2006

Céu de Bálsamo

Céu de Bálsamo
(Elinando F.)

A sabedoria popular, o imaginário, eis a formula que deixa algo meio que estático: O povo vê o que está passando, o povo vê o que estou pensando, e esse tempo nunca pára, nunca deixa de perder a graça. Quem eu sou? Alguém que o mundo vê passando todo dia, no mesmo lugar, mas ninguém sabe que, eu sou a voz de ontem, anteontem, semana passada, mês passado, ano passado... Mas Por Que? É preciso explicar algo? Meu sonho parou quando eu acordei no céu de bálsamo, esse céu que eu queria estar livre, longe do desejo gradeado, eu sempre me via de um outro lado, agora eu me pareço vivo, mas não me questione se estou certo ou errado: Esse céu é meu bálsamo, o que todo poeta recita, e repete em toda obra, em todas as obras que a vida suja, jogando no céu poeiras rubras, púrpuras, cinzentas, escuras, filhas de um exalar condicionado a ser o que não deveria ser, mas é e nunca deixará de ser uma voz calando o silêncio até o tempo dobrar a curva... E a sabedoria popular, o que irá dizer? Ela vai dizer: “Eu vou ver no chão alguém sob uma forma nua, eu vou ver uma dor inexistente, eu vou me aglomerar mesmo que eu seja indiferente, pois vou ver em cada par de olhos, que esse é meu ócio, esse vazio, essa espera que nem dá arrepios, é minha graça, um sentimento que um dia existiu, e agora tenho engasgado de quando em vez, nessa voz que partiu e levou mais um alguém”.

Tuesday, May 23, 2006

Ai! Dor!?

Ai! Dor!?
(Elinando F.)

A Dor: Eis um sentimento de Infarto!
Ela comprime e se exalta em grandeza,
Pulsa como uma inflamação ardente
Só quem ta sentindo é quem sente!

Ah! Se eu tivesse o privilégio de sanar
Seria o remédio útil sem tempo de atuar
E respirando livre de uma vez não mais seria
O estrago de algum momento rastejante.

Mas tudo que existe é o que passa
Se foi um dia é porque não foi de graça:
- Vou meditar nesse pensamento surfactante...

Pois, é de uma vez que exprimimos.
Esse incômodo que às vezes se perdeu do início
No trajeto onde o freio falhou naquela curva.

Wednesday, May 17, 2006

Artimanhas e Peripécias

Artimanhas e Peripécias
(Elinando F.)

Os vultos não tem mais suas sombras: Vagam entre os ventos e se dispersam nas gotas de chuva. Volta e meia, de meia em meia hora o tempo passa e minhas palavras se vão, com suas letras secas caindo, sem o aroma natural, espalhadas pelo chão, no corrimão que o pensamento nunca abnega. Vejo beijos e os sinto em minha boca, ninguém conhecido promete as promessas, beijo e teimo sentir sinceridade na semântica dos olhares. Em que mundo estou? No mundo que sempre existiu, que contemplas em plenitude com outro mundo, esse mundo impossível e aparente, que há de um dia conceder-te sentidos. Oh! Artimanhas necessárias a driblar a si próprio, peripécias no subsolo de tua consciência: Não vês que cavalgas sem os incômodos do caminho e pairas no plano tranquilo das brumas realísticas? É, eis que o vulto que não mais te engana, tem pressa em atravessar diante o cego, causando frescor à alma, sem os mistérios martirizantes e sem testemunhas, vívidos à espreita da água mais pura e transparente, em que vês o chão, a superfície e um reflexo à oferta visual infinita.

Confessionário

Confessionário
(Elinando F.)

A cá estou eu Aclaustrofóbico
Nesse refugo espiritual Transeunte
Orando o silêncio Episcopal vigente
Na catedral oriunda das Sombras

Cabe a mim ouvir os Recitais cautelosos
Que me inspiram a compor os versos
Oriundos da Doutrina mórbida e Jovial
Que não resabala nos espinhos dos Recantos

Sempre estou a acalentar as Corujas
Em ébrio Nefasto com os inimigos
Que esbanjam os desabores Psíquicos

Hei de perdoar em nome dessa Lei
Não expressa no Eufemismo das palavras
Mas no Tom que os ouvidos não ouvem.

O Antiquário

O Antiquário
(Elinando F.)

Desenhas o teu quadro com todo amor
Com os detalhes que fazem de teu sentimento
Algo talvez tão autêntico e extremo
Que nem imaginas do que és capaz

Pinta com as cores mais adequadas
Sem exageiros nem tonalidades mudas
Mas fazes de tua arte uma obra-prima
Que se extenda além de um momento

Exponha então em uma galeria
Mas que em teu coração ninguém roube um dia
Essas obras que nem sempre resistem ao tempo

Mas se teu talento for mortalizado
Em algum lugar há de estar sagrado
Nos antiquários das peças mais valiosas.

Folhas de Papel

Folhas de Papel
(Elinando F.)

Momento de papel
De folhas, lápis e cinzas
De graves e sombras tranquilas
Dia da chuva que passou de leve
E lá da colina eu via o estrago

O céu era a cor e as nuvens...
É, elas eram apenas teias de aranha
Flocos de uma neve de água doce
Doce seria nelas me cobrir do algodão
Virgem do beijo que borra a visão de azul

Florida é a dança do entardecer
E na areia branca boiar e reluzir as ondas
Mas no silêncio contemplo dores e a lua
Parece que ela voltou em pleno dia aberto
Onde o vento parece que deixou de soprar

E essa força vai de uma só expressão
É um vulto que se destrai por distração
Rolando na pista, o tesouro é a moeda
Frigida moléstia na dureza do concreto
Galanteador rumo ao seio da pureza dos ares.

Hipocondria Injusta

Hipocondria Injusta
(Elinando F.)

Desde então não tive mais saúde
Coleciono tratamentos bem sucedidos
E prejuízos dos mais incalculáveis
De uma farmácia de um falso hipocondríaco

Lembro que a química corrosiva
Fez de meu corpo uma usina
De distúrbios neurofisiológicos crônicos
Mas suceptíveis a terapêuticas específicas

Foi nesse equilíbrio que encontrava
O que faltava da consciência inata
Mas sem o brilho de uma energia impulsionante

Agora nessa conduta livre de acompanhamentos
Chego a pensar que minha decisão de alta
Gerou em meu organismo uma imunidade baixa.

Monday, May 15, 2006

Imensidão Dúbia

Imensidão Dúbia
(Elinando F.)

É um hospício de inválidos
Amontoados como filtros de cigarros
Pisados sem culpa por nossos pés
Que não vêem com precisão os detalhes

A amplitude das ondas visuais
São invisíveis aos olhos acomodados
No espaço vazio e privilegiado
Dos panoramas padrões compartimentados

Vejo uma árvore morta se movendo
Cujos gravetos são dedos imundos
Sedentos por uma moeda minúscula

Mas nesse bosque repleto de mistérios
Nem todos sabem que a compaixão do Ego
Consegue calar o desespero desse mundo.

Repouso Mental

Repouso Mental
(Elinando F.)

Vejo na televisão uma novela
Que nem ao menos sei o nome
Contemplo a beleza superficial das atrizes
Sem dar ouvidos a seus diálogos

Por vezes penso em caminhar sem rumo
Sendo levado por onde os passos vão
Mas mesmo que existam eles
Sempre há um tempo pra solidão

E por mais que o mundo me observe
Ninguém sabe a razão que me leva
Olhar para o nada sem vergonha

É natural que seja desse jeito
Não importa o que pensem de mim
Talvez a vida me deixou assim

Felicidade Inconsciente

Felicidade Inconsciente
(Elinando F.)

Jogas tuas mágoas num lixeiro
Isso é uma forma de não mais lembrar
Talvez eu more em um boeiro
AQui você não consegue pensar

Pra mim tudo pode ser poético
Mas pra você uma rara expiração
"Feliz" és tu que choras um momento
Na esperança de nunca mais olhar pro chão

Na verdade tua loucura não me importa
Pois infezlimente ela não abre as portas
Que estão prontas pra serem abertas

Por mais que considerem isso profundo
É posto que a vida pode ser mais intrigante
Que as descobertas que perduram pelos anos

O Solo de um Miserável

O Solo de um Miserável
(Elinando F.)

Deixo um gosto amargo no paladar
Dos olhos que param pra ouvir
A filosofia didática mais banal
Que qualquer um consegue sintetizar

Deixo um rastro de pólvora no fogo
E na água me banho com sal grosso
Expresso o humor mais vulgar e ridículo
Pois vejo nele um requinte erudito

Vanglorio a multidão que se aglomera
Mas que no fundo quer participar
Do espetáculo solo de um miserável

Eis aí a teoria dessa arte
Que atrás de um sorriso simbólico emana
As entrelinhas subjetivas de uma lágrima

Quando Era Um Filho

Quando Era Um Filho
(Elinando F.)

Os filhos são as cores dos pais
E crescem até aprenderem a crescer
Olham-me assustados e chorando
Sem uma gota de minhas atenções

Os filhos são sobrenomes antigos
Algumas vezes tomados como apelidos
E os pais cada vez mais extintos
Superlotam as crianças nos orfanatos

Uma vez eu era um menino
Que brincava de correr sorrindo
Em parques de diversões baratos

Até que um dia eu prometi a mim mesmo
Que por mais alto que fosse meu desejo
Meu maior medo era não mais ver meus pais...

As Misérias Da Vida

As Misérias Da Vida
(Elinando F.)

A faceta bizarra da miséria
Expõe o mais profundo retrato
Da vergonha de poderem existirem pratos
Mas ser possível comer lixo como um cão faminto

Vejo um Ser Humano humilhado
Com todo o corpo esquartejado
Sob o charlatanismo desesperado
De poder ressuscitar alguém por meio de remendos

E entre optar por diamantes efervescentes
Há quem consiga escolher por algo perene
Que ao menos dependa do que resta da estima

Mas quando em um espaço não se vê mais nada
A pele e os ossos são a carcaça
Do que restou da alma de um indigente.

PS:. Esse poema aborda uma visão dos pedintes do centro da cidade do Recife.

Thursday, May 11, 2006

Quarentena

Quarentena
(Elinando F.)

O mundo observa o curto período que vivemos
E olha sem sentimento
Todo o sofrimento que passamos...

O Presente nos leva a qualquer lugar
Sem direção conseguimos voltar pra casa
E o passado só existe para alguns:
"Feliz aquele que vive na ignorância!"

Nessa frieza que vivemos
Aprendemos com as consequências:
"Só aprende quem algum dia errou!"

E você que obedece a quem te ordena
Vais morrer na quarentena
Sem saber que a vida é esse dilema!

Wednesday, May 10, 2006

Flor de Luz

Flor de Luz
(Elinando F.)

Seria uma transparente flor
E suas pétalas, cachos de luzes
Onde hei de cortar o devido caule
Que de choque, morreria de amor

No solo, contemplo na solidez do teto
A brancura que a chuva escava
E na parede onde o reboco desaba
Excretas revelam possíveis desovas

São nomes que eu perco no tempo
São lembranças dissolvidas no beijo
É o pulo sem uma altura degustável

Quando o exalar das cores brilharem
Vou sentir o ferrugem que se exalta
Na eletricidade eterna de uma abelha que vem.

Teoria

Teoria
(Elinando F.)

Tal mundo fez um muro transparente
De forma a atravessar toda forma vivente
Sem resguícios de tanta novidade
Na etéria sensação de plenitude

O silêncio até outrora envolvente
Demonstra viéis de dual ressonância
Na magnitude da imperfeição humana
Perante a mórbida impressão intransigente

Eis aqui o inconsciente vaporizando
O líquido invisível dessa natureza
Sob o aspecto terminal da dissolução

Se um dia encontrares essa alma
Diga-me que seus dias estarão contados
E teremos a complexidade consumada.

Torneira Velha

Torneira Velha
(Elinando F.)

Gotas translucidas no banheiro: Seriam infiltrações? Bem, não está chuvendo, em meus olhos algo desobstruia, conectando com alguns espaços em branco, vindos de algum momento que já existiu. Pra que olhar pra traz? Eis o reflexo dessa água que não vejo, mas o espelho de todas as minhas dores, cristalizadas pela desidratação desse microorganismo extremófilo.
Deixaste pistas no decorrer de teu caminho, não são as ondas daquele lugar específico: Foste embora, mas ficaste nos detalhes, no muro ferido, na brecha das esquinas, no meio obscuro desse raso.
Intransponível é essa condição sagaz: Na maciez da carne martelada, tens a falsa impressão do paladar, angustiada pelo retoque dos temperos: Oh amor de minha vida! Abortei-te ou apenas te dispersaste no meio da multidão? Todo dia junta-se areia em meu tênis (conforto aparente) , e mesmo esse conteúdo direcionado ao fundo do lixeiro, sob o barulho do plástico que o mesmo aloja, ouço a sonoridade invisível dessas particulas das conchas, que eternamente guardam a preciosidade dos mares.
E se fosse essa torneira velha? A pia estaria inundada, e o chão totalmente encharcado, e essas gotas geometricamente diluídas, perderam seu gosto: Fechei com força o registro e em fim, foi só uma impressão. O tempo passa e começamos a chorar com mais vivacidade, verdade essa que traz a tona pequenos gestos e atitudes: Ah como poderia ir longe!
É uma boa explicação, essa mecânica incalculável, o trejeito dessas sombras: É uma grande animação fantástica, com cores reais, insubstituíveis, esse ferrugem consumidor, essa estação abandonada, aquela escada que não leva à altura alguma, pois, hoje estacionada, algum dia alguém se equilibrou na mesma para não cair do impacto feroz do chão.
É nesse banheiro que durmo, é nele que vou quando sonho, é nele que nunca faço minhas necessidades, mas é nele onde minhas lágrimas nunca se escodem...

Protesto Profissional

Protesto Profissional
(Elinando F.)

A última impressão não lembro: Foram muitas! Indiretas vias pro mesmo lugar. Cinismo nos movimentos, um mecanicismo newtoniano objetivado a perlongar pela restrição: Fica o respaldo inútil perante essa orgia de vultos distintos, desse exército em busca de mais e mais movimento, onde a conservação de energia é direcionada ao vetor à favor ou contra o vento.
Ficava pasmo perante essa mobilidade, sentia-me incapaz de me mover com tal sutileza de formalidade: Bem, não aprendemos isso na escola, mas na rua, os bandidos se divertem com as mentiras que projetamos, quando nada se iguala a produção real. Triste é saber que sabemos apenas detalhes, técnicos detalhes pelos quais as importâncias comisseram-se de forma impetuosa. Cabe a nós, perante tal situação, sentar, ler e desviar-mos desse foco doentil: Infeccioso ao simples contato aparente.
A voz minha é embassada, torna-se abruptamente irônica, perante a ironia de minha presença fardada dessa cor, cuja higiene desse mau-hábito, faz-me almoçar, lanchar, relaxar, ir ao banheiro, enxugar meu suor e se fosse possível, as frações amargas e inúteis de certas lágrimas camufladas ao redor da privada, como respingos de metabólitos de utilidade apenas para avaliação do funcionamento orgânico normal.
Estou aqui apenas para expor esse papel, nosso papel rasurado e portanto, retrato de qualquer lúgubre posição nessa estigmatizada tradição, onde o ornamento infecundo emana o pólem alérgico à todo ambiente, sem ao menos uma tentativa paliativa de redução de danos, em meio à qual a base fundamental é nada mais que testar o real conhecimento, onde palavras difíceis terão os mesmos significados que os sofismas dos vermes mais discretos!

PS:. Esse texto aborda o reconhecimento profissional.

Peixe dentro d´agua

Peixe dentro d´agua
(Elinando F.)

Eu sinto como sendo hoje
Mas não é mais como hoje
Se passou apenas como hoje
E agora nem é mais hoje

Chego até me esquecer do navio
Que um dia me devolveu ao mar
Eu te dei uma roupa quente
Se não o frio iria te congelar

Eu sinto como sendo hoje
Mas não é mais como hoje
Se passou apenas como hoje
E agora nem é mais ontem...

Caminho Tortuoso

Caminho Tortuoso
(Elinando F.)

Era o Evangelho de São Paulo: Sim! Eu não estava enganado! Eu vi que tudo estava à favor: As árvores se envergando pro meu lado, enquanto pensava: "Eu as derrubaria em nome do Senhor!". Mas continuei calado, caminhando no deserto infinito, sem saber para onde eu ia, se era Norte ou Sul: O céu eu nem mais via! E fui andando em linhas tortas, entrando em uma e outra esquina, na direção contrária aos carros estacionados. Andava sem medo de perder minha vida, e ia, sem me lembrar que um dia estive lá, nesse mesmo lugar onde me ardia a luz do dia, quando eu era vida e ouvia palavras, sentimentos em harmonia: Sim! Eu fui andando, eu fui passando e cheguei onde eu queria. O Evangelho de São Paulo se perdeu em uma daquelas esquinas que me encontrava. Mas eu cheguei, no Reino onde a linha era Reta e as lembranças me levaram à porta certa que eu deixei entreaberta: Sem uma estrela-guia...

PS:. Esse texto descreve a loucura.

O Espelho da Cama

O Espelho da Cama
(Elinando F.)

O reflexo das água no teto: Luzes de um mundo amigo, que traz-me a paz e o silêncio das horas vagas. É tudo branco e artificial: Ilumina a sombra de meus olhos, sem o toque de um lápis de cor. Por onde escorre a sede que bebo? É fruto de minha satisfação, do beijo que tenho no peito, nos afagos de uma consolação. Vago direito, pelo lado esquerdo, talvez dái-me a vez, por simples compaixão: É uma pena! Quem vejo não está diante meus olhos, é passado que não quero me resbalar, some de minha vida como perdição que foge do olhar da razão. O leito aberto para me deleitar, com ruídos de sabor doce, de sorrisos confortáveis para o enfermo pálido e esmurecido. Triste anemia que me deixou assim, sem ar nas artérias do coração, sem forças para eu ver meu rosto no lago da emoção.

A Estrela

A Estrela
(Elinando F.)

A estrela se apagou... Perdeu o brilho no olhar: Ninguém percebeu que era um estranho. Dei uma parte como contribuição mas eu não mereci tudo aquilo: Sem luz, a estrela caiu das nuvens e nem senti o chão. Passei como um cometa sobre as cabeças... Parecia que todos eram meus amigos, que conhecia a um bom tempo, e há tempos nunca fui tão amigo. Narrei jogos de futebol, com um rádio no ouvido e a televisão em minha frente. Cavalos surgiram no meio do caminho com os cavaleiros me chamando atenção para os perigos do asfalto. Era longo o caminho, que bom se não estivesse cansado. Andei pelo meio da pista, onde os postes iluminavam, deixando de lado as sombras do lado. E agora que foram embora, cheguei em casa na hora de anteontem, liguei pro telefone errado, ligaram várias vezes pra mim por engano... Pareço um orelhão público, expressando minha revolta no tempo de cada ligação, rezando para que não acabe o crédito e fique mais uma vez em débito. Ainda é cedo, tenho que descançar. Foi tudo tão rápido, preciso acordar. Preciso de algo, algo que devolva a estrela pro seu lugar Preciso de tempo, tempo para que o brilho volte sem me cegar...

PS:. Esse texto foi inspirado numa garota que se suicidou pulando do alto de seu prédio.

Cinzeiro das Nuvens

Cinzeiro das Nuvens
(Elinando F.)

No céu eu vejo o Sol que já se foi nesse fim
Término de um amanhã meio morno vindo
E a beleza do cinza cai em linhas tracejadas
Fazendo do horizonte um exalar de cheiro frio

Dias nublados virão em manhãs de postes acesos
Loucura é apagar de repente a luz dessa energia
Se as nuvens tapam nossos olhos com sombras límpidas
Tão raras no ar louco dessas estações indefinidas

Pois bem me disseram para pensar duas vezes
É do alto que começa cair o mundo com seu peso
Pairando leve na fuligem densa, volumosa e fina
Ardendo os olhos com o brilho seco vindo da Lua.

Sombra Fantasma

Sombra Fantasma
(Elinando F.)

Sinto o desaparecer, a sombra que passa
A fumaça de partículas suspensas pairando
Olho pros cantos e não mais vejo nada
O silêncio é o pano de fundo do chão que se apaga

Flutuo entre câmaras frigoríficas: Era de carne viva!
Cercado de arames nas paredes de um quarto assento
Dói-me o frio nos ossos que transmitem a condição
Sob a cor pálida da pele esquálida de magreza

Desce escorreendo em meu rosto fios de cabelo caindo
Sou duma beleza que espanta o sorriso de uma graça:
- Dai-me então o vinho desses ancestrais diluídos!

Na solidez da violência crua de um impacto
Fui a dor que sentia após um estímulo iniciado
Em algum lugar onde os vultos se encontravam.

Chuva de Papel

Chuva de Papel
(Elinando F.)

A solidão vem na folha voando ao vento
No olhar deixado como serviço de Salvação
A solidão vem com o cansaso que abandona a visão
Deixando a escuridão dividir espaço com o frio

Como o caminho parece um amargo consolo!
Se me dessem lembranças de uma pureza sem gosto
A solidão viria com um sonho que jamais existiu
Eterno à parte de apenas ser uma voz partindo

A imensidão é uma solidão de estrelas no chão
O retrato pairando da poeira que veio do céu
Inspiração nesse vazio ressecando a superfície verde
Na rigidez silenciosa da carne sofrida e nua.

Monday, May 08, 2006

Escara

Escara
(Elinando F.)

É o vômito de todas as cores se assentando
Bordando com detalhes uma mescla de odores
Profunda na parcial integridade da superfície
Surge até os ossos que até se roem de imundície

Escorrendo sacramentando a falta de consciência
O peso repousa na inércia do movimento desnutrido
Gerando de um foco, uma colonização de escândalos
Sem mais onde competir rente ao meio submergido

Avaliação difícil de ser discernida como forma viva
Só resta abrandar um corpo que não tem mais escória:
- É tudo rico de sabores cada vez mais supersaturados!

Vai que amanhã depois de dois anos de abandono explícito
A cura chega como um molde do cirurgião artista
Servindo-te junto ao mérito dos fármacos sobre os tecidos.

PS:. Esse poema fala da descrição de uma úlcera denominada "escara", típica de pacientes acamados por longos períodos.

Em um lugar mais calmo

Em um lugar mais calmo
(Elinando F.)

Era um quarto abandonado
Dormia nele... Em tempos passados...
A porta ao longe, parecia esta aqui perto
E o espelho na parede era o retrato do mundo
Refletindo uma janela atrás de mim
Além da qual uma criança sorria de cabeça pra baixo...

PS:. Essa poesia relata um sonho.

Culto à Miséria

Culto à Miséria
(Elinando F.)

A radiação advinda como fator de preservação, veio como gases cancerígenos letais, vindos para matar: Não se tinha outra alternativa, estavam usando os meios errados e as mortes subsequentes vieram como prelúdio, um aviso mórbido para quem estava em apuros e não tinha outros meios de escapar, de se libertar.
Parecia mensões de irracionalidade, mas era real: Nunca uma dor perdeu o senso, e o desespero se fez tanto que, roubou a vontade de continuar. Aquele era um mundo estranho, a atmosfera de um sonho bizarro, um laboratório de salafrários, nada mais que um resguício fúnebre de toda reação no final de sua cadeia.
Mortes e mais mortes, convites e mais inocentes se matando, embreagando-se com aqueles vapores, aquelas balas enconfeitadas de sabor pesticida, para esses insetos domésticos, que no abandono, invadem nosso lar. É uma viagem de anos, e enquanto muitos sofrem, outros continuam abanando, e o retrocesso prossegue, num sorriso que perdeu sua cerne.
Nesse meio tão arbitrário, destroem-se tantos pulmões, exala-se tantos incomodos e se traga o que não deveria ser deglutido: Perdemos a viagem e a passagem, ficamos perdidos sem a bagagem e nos dão um copo de água para não morrermos de fome. É o transpirar vindo e a sujeira acumulando, mas nada que o frio leve junto com um cobertor.
Estamos cada dia sendo o sangue verde escorrendo no esgoto, a doença que se espalha e a tristeza de inúmeros amanheceres rotos: Tornamo-nos mendigos, peças de controle biológico de humanos, e assim vivemos enrolando mulambos, fazendo uma arte para uma arte que se firma como patrimônio e não se entrega: É cultura em meio a miséria.

Sunday, May 07, 2006

Alma do Frio

Alma do Frio
(Elinando F.)

Ouvia a mais bela canção dos meus ouvidos, de tal forma que mal podia me mover: Estava dominado por uma voz de algum lugar do meu jazer, entre todos os cantos que me aguardam, nos cemitérios, nos sonhos de um lugar mais calmo, uma região onde a fartura não é algo de se ter, e onde o gozo é um sorriso único de um rosto eterno, sem nada a me submeter.
Liberdade esta alcançada, nas mãos suaves que folheiam as páginas, com a prática indiscutível de um leitor roubado do passado, nos trechos de um ensaio fotográfico, porém, até então jamais revelado no mural dos eleitos ou ao menos selecionados. Grandes alturas, memoráveis lembranças de ares profundos, tão intensos que vão passando, morrendo aos poucos, pois não é tão fácil viver assim: De um lado vindo e de um outro, como sempre partindo.
Eu vejo-te no olho, falando de perto, numa lágrima que trafega o rosto como um sinal, um resguício de sentimento, uma sensibilidade da alma de um anjo. Essa dor parece uma companhia, aquela na dor crônica da barriga, que se alastra e dá seu tom de graça no temperamento ácido de um hálito que rodopia. Até poderia ser único, mas o tempo que passa leva comigo esse amor que não morre em vida.
É desse jeito que eu vôo e tenho em minhas asas a leveza de um peso solto, encostado em ordem de tamanho, um do lado do outro. No museu da modernidade, eu sou o jovem em apuros, por ter um brilho fosco, ouvir o que não ouço, ser o artista da lógica probabilística, da razão de um sangue que no preto e branco seria incolor: Sem incômodos significantes.

Barra de Rolagem

Barra de Rolagem
(Elinando F.)

Ser o olhar de passagem, o rastro de morte
Um vulto passando, infiltrando nas vozes
Na viagem dos sonhos, eu fico em eterno adeus
Vendo a tarde partido, na luz que acendeu...

Somando ângulos oblíquos desabrochando
Percebo no antro da objetividade um momento
Assim reunidos nas mãos, os frutos adstringentes
Turvam a visão do alcance glorioso da chegada.

Ser a palavra resmungando no silêncio vazio
É pertencer à mansão mais abandonada que existiu
À beira do rio onde desaguou o sangue dos perdedores

Cansado de viver nesse chão que causou tanta repulsa
Voei para as órbitas distantes dos olhares paralisados:
- Fui uma lembrança temporária no horizonte filtrado.

Thursday, May 04, 2006

Apague a Luz

Apague a Luz
(Elinando F.)

Na entrada que eu sei
É uma rua

Na estrada vem um trem
Na sua

Esse é meu lar
O céu sem o mar

Vou sozinho mas sei
Da chuva

Quando olho pro trem
Vem uma curva

Esse é meu lar
O céu sem o mar

PS:. Essa é a letra de uma música acústica que fiz.

Monday, May 01, 2006

Moicano Verde

Moicano Verde
(Elinando F.)

De esperanças, verdes elas cantam: Ela em teu cabelo, que não mais resta dos dois lados. Meu protesto é uma resposta para um surdo, um bebê recém-nascido, uma criança com dúvidas, um jovem que não quer nos ouvir, para um senhor que nunca ouviu e um idoso que só quer conversar. Foi! Eu descobri as esquinas e segui em frente pelas mesmas ruas que não sabia o nome, todas as casas tinham fachadas semelhantes, poucas eram parecidas e voltadas para as mesmas placas diante minha fronte. Na verdade eu não tinha decorado o nome e lá estava, no lugar cuja imagem não memorizei, mas sabia que era ali.
Sempre me perco nos esquemas e calculo agora o valor daquela graça que vinha chorando tempestuosamente de saudade: Não demora muito a sensação de uma picada, ela se sente e depois corremos atrás de um pulo para atravessar o esgoto, cuja lama poderia sujar nossas vestes. Ah! Se pararmos para pensar, não voamos mais longe, aterrizamos enfim no chão, e as coisas estáticas nos pedem ânimo para tomarmos alguma atitude: Alguém ao longe me chamava, mas não a via, usei meus óculos e o sol nos olhos que não vi, confundia-me com algo que poderia ser agradável.
Quanto tempo se passa no ônibus, nas calçadas, no banco, na estrada... Mas não vou falar dessas coisas que passam, pois o que fica cai no chão e se apanha mesmo que ao longe. Sob palavrões e risos, você conta seus míseros centavos e ganha nada mais nada menos que um aperto de mão cinematográfico. Nesse momento, perante a beleza do produto em tuas mãos eu diria: “Não viveria disso, de esperanças eu morri, elas todas me causaram tanto espanto, que tal tortura arrebentou minha cabeça, depois de uma queda em que fugia de uma chance a me tocar”.

PS:. Entre falsas esperanças clichês de fim de ano, o texto aborda o fato de ter ou não ter sonhos.