Wednesday, January 31, 2007

Lição Quase Perfeita

Lição Quase Perfeita
(Elinando F.)

Eu não tenho muita coisa a falar
Pois o que tanto falei não foi ouvido
E no entanto, o que parece se transmitir nesse silêncio
É um som que certamente poderia me incomodar

Passo-me então com o tempo, em memórias ao longe
Tal como o vento vindo de suas direções
Trazendo-me vultos e reflexos que encandeiam
Na cadeia de meu pensamento eterno e louco

Ah, como poderia ter sido breve
Mas breve é ser assim, algo tão passado
Momento que se foi, perdendo-se nas esquinas
Dos caminhos estreitos de lições quase perfeitas.

Wednesday, January 24, 2007

Água Sanitária

Água Sanitária
(Elinando F.)

Aos banheiros e às fossas
Das marés cheias de intolerância
Boiam amarguras e lágrimas
Sedimentos nas dores na alma

A esta cólica neurofisiológica
Sufocada por perdas e danos
Brota um patamar de tal nível
Fazendo-me puxar a descarga e pronto!

E se visualmente o cheiro
Fosse da cor do que me amarga
Despertaria com o êxtase de um gozo
A me libertar de vez dessa mágoa

Vou-me assim por diante
Sendo esse ser literalmente encharcado
Vagando entre portas entreabertas
E nos sentimentos úricos de plástico.

Da Natureza

Da Natureza
(Elinando F.)

Ah! Se eu pudesse...
Eu seria a árvore e a rocha
E junto ao vento, tornar-se algo
A composição de algo existente

Ah! Se ainda me restasse...
Foi a consciência me sendo
Nas vezes que eu retornava
Novamente ao lugar de costume

Fico pois, como mera lembrança
Fruto que cresce e não regenera
Querendo saber se é felicidade
Tudo isso que tanto buscamos.

Wednesday, January 10, 2007

Sol Doente

Sol Doente
(Elinando F.)

A minha Doença é o quadro que pinto
Bordado de imagens de múltipla distorção
São as pessoas caminhando lado à lado
Numa visão de vozes violentas a resmungar

A minha Doença é um dia fraturado em casa
Depois de uma noite entregue ao próprio descaso
Seria uma palavra que não devias ter ouvido
No meio de uma intenção tão doce e ingênua

Minha Doença seria um Sol que se foi
Junto com milhões de bocas em maravilhas
Flores sorrindo no jardim florescido no rosto
De uma Felicidade eterna por ter existido

Minha doença sou eu que ainda doente
Recupero-me com vigor rumo a incerteza
Firme que outra vez na Saúde pendente
Serei outra vida a morrer de mentira.

Lua Desperta

Lua Desperta
(Elinando F.)

Ver o mar e o teu sopro na noite
Vindo de algum lugar belo mas longe
É uam saudade encoberta por nuvens
Diante um brilho eterno entre estrelas

Sinto uma lágrima não sendo vertida
E um sorriso abrindo coração adentro
És tu, bela numa escuridão simplória
Desperta na dança das ondas a me levar

Lua de sonhos que vieram e que vão
Amor liberto de uma prisão de anos
Batendo em mim o sentimento que a vida
Não é mais uma manhã que acordei chorando...

Wednesday, January 03, 2007

Ser Humano

Ser Humano
(Elinando F.)

Não é justo, porém, ser tão grato. Firme no ato de Ser, honesto na atitude de verter minha sinceridade aos olhos de toda uma imensidão... Não é justo!

Depois do que se vê, do que tanto espanta, ir atrás de um ou outro, como que olhando pros seus pés, seguindo um caminho apenas olhando pro chão... E as coisas? Para onde diabos vão?

Entre essa razão e esse irracional, até parece um absurdo ter uma opinião que nem podia ser diferente. Há coisas únicas, tão únicas que só hão de ser ministradas aqui, com voz, gestos, lágrimas e por que não com sangue?

Ah! Como vão as coisas! Elas se vão tão e tão! Se eu pudesse, seria-te grato, mas não é possível. Sou grato pelo até pouco mensurado, até então mensurado, resposta na ponta da língua de nós tão críticos...

Monday, January 01, 2007

Como se Fosse

Como se Fosse
(Elinando F.)

Assassinaram-me, me deram duas balas
Eu nem sei como caí, não senti dor
Acordei cheirando pólvora, fumaça de cor
E o meu nariz renovado a outros ares

Olhei pra cara do mundo abismado
Abismado o sonho se fez mudo nas bocas
Que falavam uma lingua estranha à realidade
Mal cozida na brasa de barro ainda mole secando

Entusiasmado, descobri outra vida
Um diálogo paralelo de bocas e caras mesmas
Descobri que a bala foi entregue nas minhas mãos
Enquanto meu coração continuava a pulsar.