Thursday, October 16, 2008

Pastilhas de Dentes

Pastilhas de Dentes
(Elinando F.)

O teu movimento contrário, de trás pra frente, via de regra é um sorriso rebobinado, uma vertigem, aquela tontura de enjôo ortostático. Volta, pois, pro outro lado, de lá tu pertences, tu vens de algo, de algum lugar no passado. Vendo-te longe, eu sinto o faro, e dói, dói mesmo teu aroma, antes doce, lembra ácido, caleidoscópio adulto de brincadeira séria. O teu movimento contrário gera momentos gástricos, ficas por aí enquanto o tempo não se cronifica. Reconstitui então o cenário, difícil é entender depois de tanto estrago, a tal retenção de um sorriso estimulante, balas de dentes coloridos, todos falsos!

Contágio Público

Contágio Público
(Elinando F.)

Forte, pois, é a vibração que cruza os joelhos, e corta em fatia suas pernas dizendo que é real o que os olhos não vêem, sendo pura magia sem dor, anestesia extasiada em flor que na mente se abre com cheiro de caos ávido por reconstrução. O mau hábito do hálito é freqüentemente produto de palavras gélidas e imorais, mas quando desce ao chão e o racha, é fruto dessa união que se espalha em rostos anônimos: São anjos aparecendo para nos fazer subir aos céus em meio à blasfêmia de seus gritos ensandecidos e seus vôos delirantes rentes a nossa desestrutura. Sinto-me, pois, estátua esquecida, aquele poeta na ponte ao lado de uma placa oferecida a seu nome e enferrujada, sob a orquestra do povo passando a assistir o vazio dos seus dias paralisados eternamente pelo seu trabalho, pelo seu tempo de auge e ventura. Quando eu morrer, eu vou querer esta vibração para me ressuscitar pelas manhãs, acordando-me com este gás alucinado e mortifero, dada a letalidade de sua pureza.

Monday, October 13, 2008

O Guia

O Guia

(Elinando F.)

Preciso de sombra e pouca água, pouca ilusão e muito tempo, eu preciso de mais um tempo assim, à espera de mais um momento. Longe de pensar em ir novamente, eu paro e penso, inexisto até meu sentimento se tornar claro, quando eu deixar um pouco mais de ar me invadir. Eu preciso desse tempo, não é sagrado, é como um contratempo. Sendo o vento estático, no movimento eu pairo, alerta ao nada que vem e à mensagem de um além solidário. Eu vou tentando não cambalear, eu vou com medo, porém vou devagar, eu vou pela sombra, na velocidade que a luz há de me guiar.

Sunday, October 05, 2008

Erroneu

Erroneu
(Elinando F.)

Meu prazer é pela indiferença, é um pigarro de gastrite esporrado. Vale ouro este ácido, é produto da decomposição da natureza de nosso fracasso. Este mundo é insano, enquanto acolhe o perdedor obcecado, deixa de lado um santo trabalhador honesto e desempregado. Quando vale nosso desprezo¿ É o cimento da dor compactado, o monumento de um templo destruído, reconstruído longe das memórias de um passado. O nosso Verdadeiro é Falso, e o sorriso do sonhador ladrão é fotografado, famoso pela imagem vendida a pobres coitados, em dança frenética pelo ritmo tingido de um dinheiro lavado. Eu sou um miserável, mas ganho ilegalmente de forma correta, pois ao sentir-me invadido desta forma incerta, vou traçando o meu caminho com o restante que tenho de minha régua. Eis que meu prazer é alvo de um sedutor encanto pela doença epilética, pelo sangue frio fervendo e pelo sonho de respirar um oxigênio contagioso.

Wednesday, October 01, 2008

Política em Rotação

Política em Rotação
(Elinando F.)

Na realidade eu declaro voto nulo aos retratos, eles são sorrisos de plástico, são histórias que desconheço, são canções de palhaço. A política revela fatos, trabalhos ou planos: Eu não acredito em promessas de bandeiras de pano, é o encosto nas mãos que balançam contra o vento, poluindo nossos olhos com um horizonte de invasores. Ninguém merece ser iludido, nem cantar por hipnose, é a loucura que gera a posse desses fantasmas, espíritos zombeteiros em campanha para mais uma maldição. Quanto mais velhos ficamos, vemos as mesmas coisas, a repetição medonha, e a mudança de final tardio: A cidade parece mudar apenas quando voltamos pra ela no mês de votar, o “turismo” então, foi em vão nesses casos, somente uma sensação de acompanhar o mundo girando diante nossos olhos. O planeta parece não acompanhar esse movimento contrário, e a translação no Universo é uma Rotação de regiões sem política, nem voto e opiniões. Dessa forma hei de sonhar, precisando me iludir a qualquer custo, vendo que na realidade, eu sempre votei em alguém que nunca vi, e só agora eu sei quem é, pois nunca perdeu, sempre alcançou a mesma margem de votos, sempre a serviço de mudar exatamente esse nada...