Wednesday, May 10, 2006

Torneira Velha

Torneira Velha
(Elinando F.)

Gotas translucidas no banheiro: Seriam infiltrações? Bem, não está chuvendo, em meus olhos algo desobstruia, conectando com alguns espaços em branco, vindos de algum momento que já existiu. Pra que olhar pra traz? Eis o reflexo dessa água que não vejo, mas o espelho de todas as minhas dores, cristalizadas pela desidratação desse microorganismo extremófilo.
Deixaste pistas no decorrer de teu caminho, não são as ondas daquele lugar específico: Foste embora, mas ficaste nos detalhes, no muro ferido, na brecha das esquinas, no meio obscuro desse raso.
Intransponível é essa condição sagaz: Na maciez da carne martelada, tens a falsa impressão do paladar, angustiada pelo retoque dos temperos: Oh amor de minha vida! Abortei-te ou apenas te dispersaste no meio da multidão? Todo dia junta-se areia em meu tênis (conforto aparente) , e mesmo esse conteúdo direcionado ao fundo do lixeiro, sob o barulho do plástico que o mesmo aloja, ouço a sonoridade invisível dessas particulas das conchas, que eternamente guardam a preciosidade dos mares.
E se fosse essa torneira velha? A pia estaria inundada, e o chão totalmente encharcado, e essas gotas geometricamente diluídas, perderam seu gosto: Fechei com força o registro e em fim, foi só uma impressão. O tempo passa e começamos a chorar com mais vivacidade, verdade essa que traz a tona pequenos gestos e atitudes: Ah como poderia ir longe!
É uma boa explicação, essa mecânica incalculável, o trejeito dessas sombras: É uma grande animação fantástica, com cores reais, insubstituíveis, esse ferrugem consumidor, essa estação abandonada, aquela escada que não leva à altura alguma, pois, hoje estacionada, algum dia alguém se equilibrou na mesma para não cair do impacto feroz do chão.
É nesse banheiro que durmo, é nele que vou quando sonho, é nele que nunca faço minhas necessidades, mas é nele onde minhas lágrimas nunca se escodem...

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