Sunday, July 30, 2006

Submersa

Submersa
(Elinando F.)

Árvore sem graça, Tu pereces fincada nesta Terra
As estações vão e vêm, enquanto permaneces quieta
Desse mesmo tamanho, limite estagnado pro teu desenvolvimento
És o pior da graça, duma tristeza que nenhuma floresta merece.

Se me deste sombra, foste umas das, mas não te esqueço
Beleza que é grande perde a cor, o sorriso sai do meio
Ah! Como não deixa de ser horrenda esta tua situação
És uma mulher em climatério, a enrrugar de vez os ossos.

Árvore sem graça, até parece que um dia perdeste a máscara
Mas é ilusão imaginar que te roubaram o nutriente, o pouco d´agua
Tu morres bela, um espantalho cinzento, cheirando a lavouras
São lembranças ao longe, fazendo-me viver p´las tuas dores.

Saturday, July 29, 2006

Trânsito Noturno

Trânsito Noturno
(Elinando F.)

Hei de partir pro outro lado
Dar adeus e chegar no lugar errado
Esperar o resto do Sol que está vindo
Pois, mais uma vez, perdi a noite no caminho.

História mesma com o mínimo de variância
É comédia pra o silêncio que fica pasmo e gritante
Quem há de um dia parar pra pensar de onde viemos
Só um louco como Eu: Bêbado, tentando se lembrar das coisas!

Não! Mas eu sei que vou encontrar essa incógnita
Estava apenas nessa linha reta que vai pra esses dois finais
Se eu não visse alguma placa me dizendo porque estava tão longe
Haveria de ficar parado eternamente nessas paradas de ônibus.

Sunday, July 23, 2006

Adornos

Adornos
(Elinando F.)

Não vão te servir estes cacos de vidro
Só hão de cortar tua pele ou te fazer riscos
Bem sei que se fossem de cristal serviriam
Ao menos para usares como um adorno, um brinco...

A carapaça da explosão da pólvora foi longe
Deixou em miolos um rosto coberto de sangue
E os pedaços sagrados de osso seriam colares
Um amuleto sombrio digno de merecid´omenagem

Brava é a beleza que nunca se encontra atada
Sem forma é uma magia triste e solitária
Algo que um dia jamais almejaria atenção

O corpo do copo e o fundo da cabeça partidos
São fragmentos de jóias de um ouro encardido
Em processo de valorização pelo sistema do espírito.

Saturday, July 22, 2006

Vigília

Vigília
(Elinando F.)

Quando foi ontem? Foi um dia passado, um sonho aguado, um sentimento soletrado.
Vago em memórias, lembranças mentirosas, como se o que passou fosse algo falado, que me veio em mente.
As pessoas passam, as pessoas falam e então me deparo aqui: Estou dormindo, em um sono apagado, para não se morrer.
E o que vem? São dias, passagens, o porvir das sensações: Alimentos insaciáveis, à espera de um sétimo dia justo, de um quarto de horas à mais, tão significantes...

Thursday, July 20, 2006

O Todo

O Todo
(Elinando F.)

Tudo é Um: Eis esta minha unidade!
Reunida num lugar onde nada se encontra
E vejo que estou lá, o único pulsando rápido
Na firmeza onde os mares e as ondas se acalmam

Como ninguém mais, sou o último Ser acolhido
Por não ser tão Bom, acabo vítima de grandes malefícios
Até o medo de chegar perto se tornar etereal
Tal como o canto das sereias de um horizonte distante

Tudo é Um: Eis esta minha castidade!
Prometi a mim mesmo algo, mesmo não sendo verdade
Deixando em silêncio, vultos que a meu lado choram
Em saudades vivas nos dias onde o banho é de Sol!

Monday, July 17, 2006

Genéricos

Genéricos
(Elinando F.)

O diâmetro do poro, o material a ser conferido
O ideal de pureza, a aparência de um conteúdo límpido
Pois no fim das contas, você tem uma vida em mãos
Misturada num lote, em alguma estante suspensa do chão.

A responsabilidade é um nome seguido de um número
E o vencimento é tão vago que ainda mostra efeito
Calculando o tempo que a existência tem dado valor
Seria bom que houvesse honestidade pulsando no peito.

Mas não! Ás vezes o remédio nem se torna veneno
A praga é um objeto imutável de cor e odor similares
Nisso, até parece que nós vivemos de imagens autênticas
Quando no fundo, a nossa falha foi termos sido vulgares!

Tuesday, July 11, 2006

Parte de Mim

Parte de Mim
(Elinando F.)

Ah! Eu não vou me escrever novamente
Meus pensamentos também me consomem
Estou inscrito em boa parte das páginas
Sob fragmentos de versos em branco

Sim! Até parece que eu posso me ver
Sou da geometria triangular dos quadrados
Em mandalas girando como hélices de moinhos
E feixes de raios elétricos que não dão choque

Em suma, sou digno de um tom triste
Mas é na graça dos sorrisos que existo
Abismando a razão com desleixos disléxicos
Em repentinas lembranças fora do tempo.

Thursday, July 06, 2006

Água Marinha

Água Marinha
(Elinando F.)

Visão do mundo profundo, a cor se perdendo
Era o cristal marinho, de água azul celeste
A tua busca é a mina de ouro em um deserto
Regado pelo silêncio que eu deixei lá no Leste

Fascínio de um lucro roubado dos abismos
No seio dos interiores rochosos de calcário
Deram-me de amostra um exemplar caríssimo
Cujas explosões deixaram aquele olhar chocado

Oh! Teus mares me revelaram ondas no chão
E as estrelas caíram finalmente no horizonte:
- Grande espetáculo fértil para nossos sonhos!

Eu não sei quem trabalha como joalheiro
Mas se não encontrá-lo, prometi a mim mesmo:
- Vou devolver esta pedra a quem tanto guardou segredo.

Tédio Atuante

Tédio Atuante
(Elinando F.)

É hora de agora ser o momento
Abrir o mesmo livro em conjunto
Estar reunido para assistir a ópera
Do melodrama psicopatologico das entranhas

Eu bem pensava como que dizendo
Que no sentido contrário estava morrendo
Mas na luz daquele imenso vazio interior
Encontrei a liberdade de viver um explendor

É na repulsa de um olhar rastejante
Que o silêncio conversa em pensamentos
A mesma triagem de condições sufocantes

É hora de nunca deixar de ser sempre
A ira regada desses versos farmaco-dependentes
Nos moldes célebres do mais vigoroso requinte insone

Wednesday, July 05, 2006

Descontinuidade

Descontinuidade
(Elinando F.)

O que é a vida sem um afago, sem um beijo?
É não sentir o contato, é não ter calor no meio
O que é a vida sem um sorriso, sem uma graça
É assistir o tempo todo, o tempo que passa

O que é a vida sem correr, sem suar de coragem?
É andar pensando sempre na mesma velocidade
O que é a vida sem durmir , sem acordar esperto?
É viver eternamente alucinando num deserto

E o que me diriam os tratamentos mais intensivos?
A resposta é a mesma do que tanto se tem dito
Não nos resta dúvidas para com o que de longe se retrata:

"A vida é o que nas vitrines você encontra sempre,
É nada mais que a mesma coisa nova e diferente
Repleta de todo um conteúdo que desaparece do nada".

Os Andes

Os Andes
(Elinando F.)

Diante de mim eu vejo cristais
Um futuro brilhante encrustado nas rochas
Balançando as folhas de um verde sagrado
Nas alturas onde as nuvens roubam oxigênio

Diante de mim não mais vejo nada
Só um sorriso que se despede de forma amarga
Em meus olhos perdidos num vazio alegre
Que me responde a verdade com a sombra do que eu era

Eu fingo enxergar uma pureza mascarada num cheiro
Inconfundível de um gosto dormente nos lábios
Mentindo para satisfazer uma dor que não parte

Mas é melhor me abastecer com essa espera
Pois eu sei que cada coisa tem sua época
De desaparecer em alguns minutos de glória

Tuesday, July 04, 2006

Abutre

Abutre
(Elinando .)

Eu vou me lembrando e voltando
Quando já vencido, sem mais planos
Vago por épocas onde reinava a euforia
Atrás de um embalo eterno de silêncio e prantos

Eu vou me desgostando, engolindo vergonhas
Quando estava certo de ser o que ninguém sonha
Vivo a sorrir pelo mundo onde se irradia
Uma alegria imensa de viver uma graça medonha

Tinha o grito desafinado que agora esberro
Liberto assim a mágoa de ter sido incerto
Quando agora eu não mais tenho dúvidas

Peço mais outra vez que meu tempo pare
Para que não mais volte com essa dor que invade
Essa árvore morta oonde eu me protejo das chuvas.

O Amanhecer das Horas

O Amanhecer das Horas
(Elinando F.)

O amanhecer azul da vida, na janela
Sinto o frio do tempo me aconchegando
Da brisa do mar que lá fora vem vindo
Com o hálito verde das folhas acordando

Já é tarde pra dizer que o céu é de ouro
Os pássaros voavam em bando das gaiolas
Colorindo com seus cantos os ares da infância
Desbravando a distância de um mundo que não mais veria

Foram-me dado algumas fotos de lembrança
E imagens registradas, impossíveis de serem fotografadas
Mas contempladas em um gozo de profundo silêncio

O amanhecer cinza da tarde se despede calmo
E com a janela fechada, fica difícil de ter o respaldo
De uma Lua sem a luz de um Sol prateado.

Funeral dos Invisíveis

Funeral dos Invisíveis
(Elinando F.)

O amigo de longe, o amigo de perto
Ele ouve histórias, ele conta frenético
O amigo de ontem, o amigo de agora
Ele nunca esconde, a verdade pelas costas

O amigo que morre, o amigo que cresce
Nos ensina a ter sorte, num caminho que preste
O amigo que canta, o amigo que chora
É o músico que escuta, e de ouvido toca as notas

É o amigo que vai, é o amigo que vem
Sua voz é a de Deus, mesmo que ele viva Sem
O amigo que é seu é o amigo que é nosso
É o amor que cria e enterra nossos ossos!

Tiros no Cosmo

Tiros no Cosmo
(Elinando F.)

Roubaram-me tudo: A sensibilidade, a dose pequena,
Deixei de ser fraco: Roubaram-me as estrelas que restavam!
Mesmo no céu iluminado, eu contava sempre mais uma,
E agora o azul que brilha é o dos mares profundos...

Grande beleza é a dolorosa sabedoria amarga,
Deixei assim de ser gago: Agora aprendo com os espaços deixados!
Meu pensamento é algo que sobe e desce com as ondas,
E não mais sou levado para um porto só de lembranças...

Valendo-me cair de um ponto que não se percebe,
O planeta exibe a vida sem mais observatórios e naves,
Parece que todo mundo já sabe: O aviso agora é tarde...
Mas à cada dia eu recolho de volta, milhões de estrelas de verdade.