Monday, September 29, 2008

Retrato Perdido

Retrato Perdido
(Elinando F.)

À essas horas do dia eu acordo, à essas horas do dia durmo, à essas horas da noite eu vivo, à essas horas da tarde eu sonho. Perco o rumo, perco a linha, perco o barco, sou sem dono: Sou feliz sendo errôneo, eu sofro por ser medonho, mas espanto o mau olhado, sou resistente ao encanto, ao cansaço, sou freguês do abandono! Eu tenho Deus, Ele é meu pranto, sou filho do seu Canto, se não me engano sou Anjo, ferido pela dor de ser Puro e Insano. Vou pra qualquer canto, bebo onde você quiser, vejo em poucos olhos, a verdade que ninguém aceita, que ninguém quer. Fico Triste sem saber, sendo assim, choro pelas lágrimas dos olhos, choro por não entender como é que é. E o Tesouro¿ É perdido! Vivo na busca dessa Felicidade, assim como a Vida, que me escapuliu e não encontrei mais...

Tuesday, September 23, 2008

Aos Olhos de Maria

Aos Olhos de Maria
(Elinando F.)

Os olhos da Virgem me olhavam sem expressão: Ela era realmente uma Santa e eu um mero Pagão. O dia amanhecia e meu olhar no nada parecia a dor de uma imensidão, e a virgem me fitava sem nada dizer, o Sol brilhava tanto que o céu era só luz, e minha noite sem fim me consumindo, deu lugar a um pouco mais de vida, a um pouco mais de satisfação. Porém os arredores pareciam dar adeuses, os meus movimentos paralisavam, a inércia daquele renascer era paradoxal a ponto de me deixar por alguns minutos assustado com olhar o vazio de Nossa Senhora da Conceição. Por que no desespero as imagens não se locomovem? Por que na dor, minha consistência se dissolve? E os olhos de Maria se fecharam de repente, então acordei daquele pesadelo, e saí para ver o dia dos outros, e pelos outros eu vi a lembrança dos banhos de Sol, Sal e Olhares de outrora...

Sunday, September 21, 2008

Ótica dos Bêbados

Ótica dos Bêbados

(Elinando F.)

Quanto mais eu bebo, mais eu vejo o Recife melhor. A ressaca do outro dia parece me dá toda a moral que meu fígado perdeu. Todo meu amargor se transforma em exaltação, ao ver o caos transitando pelas avenidas, pelo caminho para onde vão cada uma dessas pessoas, e nas praças por onde dormem os desabrigados. Recife parece uma enorme cama, por ela dorme além dos cachorros, os bêbados - as criaturas mais sábias dessa cidade - que enxergam da melhor forma possível, cada monumento no seu melhor ângulo fotográfico. Recife sorri pra mim, e eu retribuo da melhor forma, e vou embora feliz, com aquela imagem na lembrança, a percepção e a certeza de que eu vi o que estava sentindo na sua melhor definição.

Saturday, September 20, 2008

O Bailar Das Folhas

O Bailar Das Folhas
(Elinando F.)

As plantas dançam muito bem, elas permanecem verdes mesmo no ambiente mais claustrofóbico, elas só necessitam de um pouco de água para viver e dançar, eu as vejo bailar sem música, só com o vazio do ar e a distorção branca das paredes. As plantas são verdes e também brilham, elas necessitam de um pouco de luz para sonhar, por isso elas também dormem tranqüilas sob o silêncio da sala de estar. As plantas também amam, elas precisam de alguém para olhá-las e lembrar-se delas, mesmo não sentindo nada: um mau olhado normalmente é uma máquina mortífera para as coitadas. As plantas são seres vivos, tão vivos como a areia que as protege e acolhe por algum tempo de meses ou anos, ao menos que morramos antes, aí nesse caso, elas morrem depois de pouco tempo, de tanta saudade, de tanta sede pela água que dava toda sua energia para dançar.