Saturday, September 30, 2006

Naquela rua que eu me perdi

Naquela rua que eu me perdi
(Elinando F.)

Por onde andas?
Não mais te encontro
Nem em becos sem saídas
Naquelas ruas cheias de vida

Parece tudo abandonado
Vejo alguns postes apagados
Isto é apenas uma lembrança
Que nos deixaram com o silêncio

Seremos culpados e as vítimas
As pessoas vão voltar feridas
Com as balas ainda quentes nas mãos
Dos revólveres roubados do chão

Naquela rua que eu me perdi
Era tão perto de onde te vi
Mas me levaram pra casa
Dizendo-me para ter mais calma

Apenas um pouco mais de calma...

Canção do Esperar

Canção do Esperar
(Elinando F.)

Tanto tempo a esperar
Tantos anos pra se encontrar
Amanhã talvez é o mesmo dia
De hoje, de ontem, de depois...

Parece promessas divinas de dor
Juras para nunca mais sentir o calor
Cobertor como parte de uma vida
Nos olhos de quem enxuga suas feridas

E os sonhos ninguém sabe mais
Guardam restos deixados pra trás
Poemas em branco no chão
Gotas de sangue e um lápis na mão.

O Alumiar

O Alumiar
(Elinando F.)

Balões de luz
Olhos cadentes e o fogo
É uma chuva de combustões
Alegrias de cores infantis

Nas minhas mãos
Deixo escapar uma vida
Voa pelos ares sem destino
Indo cair de incêndio algum dia

E nos vapores da vela
Destilo frações de embriaguez
Anoitece e nem mais percebo
No meu teto esse sopro elétrico.

Monday, September 25, 2006

Dois Tons

Dois Tons
(Elinando F.)

Alojado ao redor da inanimação
Os aparelhos eletrônicos são como vidas
Emanam filhos gerados duma eletricidade
Condenada à fatalidade de não mais existir

Perdido no tempo dos relógios
As horas passam como anos silenciosos
E os ponteiros errados indicam a situação
De como as coisas se encontram nesse momento

Uma gota cai nos olhos do óculos
Enquanto um flash é disparado contra a visão
Desse retrato tipico e quase agonizante
Focalizado em sentimentos febris de uma solidão.

Sunday, September 24, 2006

Potron-Minet

Potron-Minet
(Elinando F.)

A brancura de um frescor incandescente
Vindo do Sol pairando no chão reluzente
E as pessoas a penetrar na luz clar´alva
Indo pr´onde a manhã leva as mágoas

Viver de sonhos empoeirados de ventos frios
Em límpidas superfícies calmas sobre os rios
Nos olhos de quem arde as lágrimas contidas
Ao som dos ecos das vozes interrompidas

E o romper da nuvem vinda da sombra
Faz desse espaço um tempo que se avança
Adentro do esquecer fluindo para a saída
Desse véu suave de partículas imensuráveis

Sunday, September 17, 2006

Das Cores

Das Cores
(Elinando F.)

São delas de onde me deparo lúcido
Num momento eterno de pura infinitude
Das cores, vendo-as tingidas duma geometria
Cristalina de faces peculiares e uniformes

Os movimentos circulares cintilando espectros
Numa visão abstrata, cega ao horizonte reduzido
Tendo no aconchego infantil perdido em mim
A paz de outrora aberta num espaço etéreo

Sou de onde elas vêm na forma mais integra
Mundo ilícito que me traz essências inodoras
Brincadeira animada de desenhos suprimidos
Pela realidade dispersora desses sonhos vívidos.

Thursday, September 14, 2006

O Motivo

O Motivo
(Elinando F.)

O motivo advém da sombra de algodão
Carinho da forma oblíqua da escuridão
São como inimigos que eu tenho sempre
Confortável travesseiro de penas doentes

As cores se movem como lembranças pálidas
Nuvens mornas confluindo para outrém
Sob versos carentes de poucos segundos
Em reflexos digestivos de vai-e-vens

O motivo advém de um tal equilíbrio
Que um dia se tem e em dois não mais
Brincadeira infantil de cunho infame
No parque das diversões morbido-banais

Esse sonho é de quem dorme de dia
Caminhando pendente nas pedras do chão
Mensagem daquela que se ouve sempre
Nos ouvidos resfriados da pior solidão.

Tuesday, September 12, 2006

Azarento

Azarento
(Elinando F.)

Azar o meu, Azar o teu, Azar o nosso!
Quem manda querer ser o que não é
Azar ao próximo, Azar ao ócio, Azar ao silêncio!
Ouvi dizer que é melhor viver sóbrio

Azar o de hoje, Azar o de amanhã, o azar de sempre!
Eu repito mais uma vez como se sente
É um sinal disparado de uma bala mortal
Fecho os olhos, mas parece que nada é normal

Azar dos outros! Felicidade é pra quem pode
Dinheiro no bolso, trabalho pra quem merece
Azar o teu, chorando pro que não tem mais volta
Nessa vida de fumaça, impregnada desse azar.

Saturday, September 09, 2006

Jogo Limpo

Jogo Limpo
(Elinando F.)

Como fomos longe! A cá estamos na linha do horizonte... E de onde viemos?

Eu bem me lembro que quase agora estava no chão, porém me vejo nesse lugar boiando, e ainda pior, pareço querer afundar, junto com esses estranhos em que agora me deparo.

Sim! Por sorte eles tem algo a me falar! Eles me dizem para não me desesperar, basta pisar do lado de fora, pois toda profundeza que pareço ver é mera ilusão. Dizem eles que apenas estamos no chão, superfície como a de uma enchente, que parece levar o caminho de nossos pés.

Foi mera impressão, não estive além do que supostamente pensei estar e eis-me aqui, recebendo um telefonema de alguém conhecido, que esqueci o nome, mas me diz que isso é apenas um jogo, e agora só é preciso entender do que se trata essa brincadeira...

Wednesday, September 06, 2006

Vasto Cubículo

Vasto Cubículo
(Elinando F.)

Se me fosse limitado, as coisas que Deus me deu
Normalidade e equilíbrio seriam reações de estados
Ah! Como de bem o mundo viveria ao meu lado
Em infindáveis percepções de exteriores planos

De fato, vejo tua habilidade de deixar sempre de Ser
Enquanto a transcedência cabe aos que faltam algo
Milhares são as penumbras fitando o claro
Em sonhos de manhãs tão vivas como nunca

Pois tendo como posse a limitação de um fato
Vasta é a reflexão dos vai-e-vens hematófagos
Quando ao beirar da loucura, lúcida sendo a distinção
Interminável é o destino aprisionado neste recinto

Tuesday, September 05, 2006

Balão de Ar

Balão de Ar
(Elinando F.)

Ai-me, estou derrotado, vencido
Veja só o quanto lutei, fui fiel
Sempre a mesma vitória, meu inimigo
Domando-me da forma mais cruel

E os meus olhos, olha o quanto fatigados
Fecha os teus, não mereces tal sono
Vira pro lado, muda pra algum canto
Para onde a luz brilhar, desvia-me e pronto!

Ao sentir a eternidade, esse sopro constante
Haveria de pulsar, com o vigor ante a tristeza
Disso tudo, tendo em mãos um balão cheio de ar
Lembro o quanto neles via cor e graus de beleza

Sunday, September 03, 2006

Variações Cíclicas

Variações Cíclicas
(Elinando F.)

Vi como que o tempo parar sozinho
Quando fixo passei a sentir a pausa
Os barulho, os gritos, as batidas e atropelamentos
O cotidiano se distorcendo em variações cíclicas

Olhei pasmo o mesmo lugar onde encontrava os mendigos
Os pobres, os cachorros e o silêncio dos abrigos
Pessoas chorando nos corredores tornados de branco
Sob excretas mudando de cores em variações cíclicas

Chorei a tristeza do mundo e a que ainda restava
Até a dor se estabelecer como uma presença divina
A ponto de achar que no vazio do espaço eu levitava
O sentimento eterno de um momento de variações cíclicas.