Saturday, May 12, 2007

Boboleta-Pulmão

Borboleta-Pulmão
(Elinando F.)

De folhas abertas, suas asas se abrem como dois pulmões a respirar a brisa desse mar que partiu. São verdes de outrora agora cinzas no peito, repletos do carbono e do negro vertiginoso desses dias em claro, com a cabeça pesando e ante o estalo, o cérebro pulsa como um coração cansado. Delírio de manhãs forçadas, rente a dor do mover-se e do seguir, mas que vale a pena ir do que ficar inerte ao atraso. Borboleta que voa nesse céu instável, estação louca que vai e que vem. É como a chuva que molha e que de repente some como meus vai-e-vens. Subindo da raiz ao ápice, passando pelo tronco cercado de arames, eis que fico aqui a proteger-me desse frio. É aqui mesmo onde se escondem os seres vivos, encolhidos junto comigo a esperar, até a hora do tempo não mais agüentar, e sairmos correndo com a feição amarga sem paciência, pois breve é essa estação, por mais intensa que seja no bater dessas asas repletas de um pó venenoso, mas que carrega consigo uma mãe que nos dará por fim seu sagrado alimento.

1 Comments:

Blogger Thalita Castello Branco Fontenele said...

!
E ela vai durar apenas 24h...

Muito bom, adorei.

7:35 PM  

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